terça-feira, 10 de junho de 2008

Procura

The Used – Blue and Yellow

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Um dia perdi-me dentro de mim. Tanto procurei, tanto procurei, que não só não encontrei, como me perdi completamente. Os anos passavam e a resposta não vinha, pelo que, certo feio dia, decidi procurá-la sozinho. Tinha um punhado de certezas, e nelas confiava para me agarrarem à VIDA que, apesar de apenas uma ilusão, me mantinha colado ao planeta e me permitia não ser triste. O punhado de certezas que tinha… esses vi-os perecer momento a momento, em anos que décadas pareciam… Enquanto tinha apenas uma dessas certezas, outrora mais que algumas, permiti-me continuar, aventurando-me cada vez mais, obcecado, viciado com o prazer e dor que havia a cada nova descoberta. A cada nova pseudo-descoberta. A cada passo que dava, a cada nova descoberta que tocava, via, apenas um pouco adiante, uma outra que me pedia que abdicasse da anterior para a poder conhecer. Não sei porquê, fui caminhando. Talvez pensando, ou sabendo, que cada uma dessas descobertas não passava, precisamente, de uma pseudo-descoberta, menos valor de cada vez dava, e confiante que a mais difícil seria a melhor, os meus passos ecoavam algures dentro da minha mente, dos territórios que talvez tivessem sido feitos para permanecer virgens… Nada aparecia, e tão depressa agarrava algo como descartava, percebendo o quão fácil é ser enganado…

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Mas tinha ainda a certeza que me traria de volta á ilusão de VIDA feliz que me fazia passear pela existência com um sorriso amarelo no rosto. Ou tinha? As minhas mãos tacteavam no escuro, à procura desse mágico fio que me traria de volta, mas nada aparecia. O desespero esperava, à porta, para se fazer sentir, mas tentava, com força, manter a mesma fechada, colocando todas as minhas forças para que esta não se abrisse. Quando dei por mim, queria continuar a procurar a certeza que me agarrava ao mundo, queria continuar a procurar uma descoberta que não passasse duma pseudo-descoberta, mas estava demasiado ocupado, concentrando todas as minhas forças na porta de madeira negra que já rangia e ameaçava dar de si. A força era avassaladora, e não tive como não ceder. O desespero instalara-se e além de me deixar com um sentimento de incapacidade, toldava-me um pouco o tacto. Já caminhava às cegas… tinha perdido a certeza, e procurava, pelo outro lado, algo que me trouxesse de volta. Algo que me trouxesse para mim, para a realidade de quem sou, ou apenas para essa ilusão de VIDA que tinha tido e de que tinha abdicado. Sentia, cruelmente, que a ideia de poder, nessa altura, descobrir a minha essência, essa descoberta, se manifestava, num pontapé maquiavélico do destino, numa ilusão despida de qualquer fundamento real, de qualquer aspiração…

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Continuei a caminhar. Não ia sozinho. Dum lado a sombra do desespero, do outro a pesada constatação da realidade… Ironicamente, não vivia já numa ilusão, mas na certeza de que sempre perdido viveria.

1 comentário:

Sendyourlove disse...

humm...tb já cheguei a esta conclusão à algum tempo