quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Onde Comprar "Estórias em Vão"


Amigos, o Natal está aí... :-) Preço do Livrinho - 8,9€

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Para quem teve o enorme azar de não ver contemplada a sua cidade nesta lista, saibam que podem encomendar em qualquer FNAC. Para encomendar numa qualquer livraria, têm de dar os seguintes dados:
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Autor: António Pedro Moreira
Título: Estórias em Vão
Editora: Papiro Editora
Distribuidora: Buk
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Finalmente, podem ainda encomendá-lo na LivrosNet, clicando aqui. Se não estou mal informado, não se pagam portes.
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Entidades Localidade
Sérgio Marques Henriques Silva Albergaria-a-Velha
A Capa de Francisco Manuel Teixeira da Silva Baltar
Librobraga Braga
A Americana-Papelaria e Livrarias Braga
Papelaria Livraria Cabeceirense Cabeceiras de Bastos
Livraria Portugal - Dias e Andrade Coimbra
Nazareth & Filho, Lda. Évora
Livraria Antecipação Funchal
Casa Véritas - Editora, Lda. Guarda
Livraria Solúmen Lamego
A Americana-Papelaria e Livrarias Leiria
Livraria Barata Lisboa
Morais & Pires, Lda. (Papelarte) Lisboa
Livraria Escolar Editora Lisboa
Escola Nova - Livraria Papelaria, Lda Moimenta da Beira
Livraria Latina Editora Porto
Papelaria Livraria Artur Azenha, Lda Porto
Nicola, Livraria e Papelaria, Lda. Porto
Unicepe, CRL Porto
Era uma vez no Porto Porto
Papelaria Livraria Artur Azenha, Lda Porto
Livrarias Peculiares, S.A Porto
Locus - Artigos de Papelaria, Lda Póvoa de Varzim
Livraria Liceu, Lda Póvoa de Varzim
Vicio das Letras - Liv. E actividades culturais, Lda Santa Maria da Feira
Livraria Antecipação Setúbal
Casa Tomy - António Luis Santos Custódio Silves
Livraria e Papelaria Nova, Lda Tomar
Paulo Jorge, Lda Vale de Cambra
Estudante - Com. Distrib. Prod. Papel, L Valongo
Morais & Pires, Lda. (Papelarte) Viana do Castelo
Livraria Papelaria Aguiarense - Dias & Portela, Lda. Vila Pouca de Aguiar
Livraria e Papelaria Branco Vila Real
Livraria Pretexto, Lda - Forum Viseu Viseu

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Não Entres Aí

Não entres aí, por favor. Não entres! Por favor… Não consigo pensar contigo dentro da minha cabeça! Não consigo ser contigo dentro da minha VIDA. Não entres aí, não entres aqui, por favor. Desaparece, duma vez por todas. Abandona-me, e deixa a minha mente, os meus pensamentos, abandonarem a tua imagem eterna, pura, estupidamente bela. Não quero mais pensar em ti. Não quero mais empolar as situações da maneira como faço, não quero mais fazer de ti um super-homem, não quero mais pensar tanto em ti, que vejo-te ainda melhor do que és, ou alguma vez foste. Não entres aí, por favor não entres.

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Sinto desespero, é tudo o que sinto. Não tenho coragem para nada, ou faria algo, mas não tenho coragem. Nas paredes está pintado o teu corpo, no céu passam nuvens tuas, nas minhas veias viaja o teu sangue. Para ti sei que não sou absolutamente nada, absolutamente ninguém. Pensei que pudesse ser diferente. Pensei que realmente tivesse significado tudo o que me disseste. Pensei em tudo, ouvi tudo de ti, não ouvi nada de mais ninguém. A razão encolhe-se em momentos como este, a razão encolhia-se nos momentos em que olhava para ti. “Não vai doer, eu gosto muito de ti!” – dizias tu. Na altura acreditei, e realmente… não doeu… na hora. Pensei no óbvio, no que querias dizer que não doeria, e esqueci-me completamente de me questionar no quanto doeria depois. Se teria sequer que doer… nem nisso pensei. No momento em que te tive dentro de mim, pensei que te fosse ter para sempre. No momento em que estiveste dentro de mim, pensaste em esquecer-me para sempre.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Por Pouco Pecado - Parte IX

Não sei quanto tempo durou a viagem. Tentava focar-me nos meus sentidos. E conseguia, como conseguia. O único sentido que saía a perder era a visão. Queria ter os olhos abertos, para ver o seu rosto, com os seus próprios belos olhos fechados, a beijar-me. Queria ver aquela pequena linha que fazia com a testa, num esgar de prazer e desejo. Mas era difícil, demasiado difícil. O que eu era então, nos sentidos, era as minhas mãos, que passeavam nas suas longas cochas, no seu cabelo revolto. Era o meu nariz, que cheirava a mistura indecifrável do aroma do seu champô com o seu perfume. Era os meus ouvidos, que escutavam uma respiração em uníssono, feita por duas pessoas. De vez em quando parava, afastava um pouco os lábios. Os pensamentos morais, esses tinham ficado na rua, a morrer ao lado do cigarro que se ia apagando. Parava, afastava os lábios e olhava-a. Ela abria um pouco o sorriso, e puxava-me para si.

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- Acho que este vos convém. – diz o taxista, num sotaque estranho. Afasto-me, encosto-me para trás. Espero uns dois segundos para conseguir tomar conta de mim, e abro a porta. Ela espera. Saio do carro, dou a volta por trás, abro a sua porta. Ela sai, e fica voltada para o hotel, que ficava do lado esquerdo do táxi. Fecho a porta, pago.

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- Tem alguma preferência? – pergunta-me o recepcionista. Sinto algo estranho. Ao entrarmos, lançara um olhar para o ar, depois de avistar com quem vinha. Seria impressão minha, concerteza, mas parecia-me que se conheciam.

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- Qualquer um. – respondo. Voltamos um pouco atrás na nossa relação. Apenas uma meia hora atrás, na altura em que não nos tínhamos beijado, como se o táxi tivesse sido um portal do futuro. Voltamos a reagir com o outro como se nada se passasse. Estes jogos, apesar de interessantes, confundiam-me, e nem sempre sabia como reagir. Entramos no elevador.

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- Conhece o recepcionista?

- Como?

- Ele fez um olhar qualquer que estranhei, quando a viu… Conhece-o?

- Que resposta espera?

- Uma honesta.

- Pois… Sabe que posso dizer-lhe que não, e certamente isso será o honesto. Mas se o conhecesse, que acha que diria?

- O mesmo que diz agora mesmo…

- Precisamente. – fico na mesma. O elevador tarda mais uns 10 segundos a chegar ao destino, 13º andar. Esqueço esta conversa, esqueço o que me possa ter parecido, e saímos. Não sei se ela estranha, ou não, o facto de não a deixar sair primeiro. Não me apeteceu.

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Caminhamos os metros que nos separavam da porta 1313 em silêncio.

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- Acha que isto é um sinal? – pergunta ela, apontando com o olhar para o número inscrito na porta.

- Eu acho que sim, deve ser. Mas na dúvida, gostaria de descobrir.

- A resposta está perto…

- Perto demais… – abrimos a porta e entramos.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Por Pouco Pecado... - Parte VIII

- Então e tinha de estragar uma noite tão perfeita? – pergunto, com um sorriso.

- Alguém tinha de ser o valente aqui, certo?...

- Bem, pois pode, se quiser, continuar a ser “o “ valente, e decidir o nosso destino… – sugiro.

- Sabe que mais?... Vamos deixar ser o destino a decidir-se a si próprio… – sei que não vem nenhuma boa notícia dali. Aquele olhar está carregado de mistério. Afasta-se um pouco, uma vez que estávamos ambos debruçados sob a mesa, roda, e chega a sua carteira. Tira o seu porta-moedas, de onde tira uma moeda. Começo a perceber.

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- Eu vou mandar esta moeda ao ar. Se cair caras, fazemos o que queremos fazer. Se cair coroa, fazemos o que devemos fazer. – ok, era o que tinha antecipado. Não vejo grande propósito, uma vez que se não fizermos hoje, aquilo que queremos fazer, e nos encontrarmos, por exemplo, amanhã, fazemo-lo amanhã, ou depois… vejo que ainda não acabou. - e eu levanto-me, você paga a conta, e nunca mais fazemos por nos ver. – não me mexo. Estava, como referi, debruçado sob a mesa, com os braços apoiados na mesma, olhando a minha musa deliciar-me. Assim permaneci, impassível. Estava à espera de tudo, menos daquilo. E não queria aquilo. Num segundo penso que isso seria o melhor para mim, ainda não era tarde demais, ainda nada tinha acontecido, ainda não tinha entrado por nenhum caminho de que me pudesse vir a arrepender. Mas foda-se, quem é que quer sempre o que é melhor para si? O pior é que, toda aquela imagem que lhe tentei fazer passar, dum homem autoconfiante e sempre seguro, misterioso, poderia cair por terra se eu dissesse, simplesmente que não queria arriscar. Ou seja, perdia na mesma. Só havia uma solução. Ela permanece calada, com as pernas cruzadas, encostada para trás. Tiro um cigarro do maço e acendo.

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- Está apostado!

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Ela olha-me nos olhos uns 5 segundos, coloca a moeda em cima do dedo indicador, e num movimento repentino com seu polegar, a moeda voa acima das nossas cabeças. Os nossos olhares não se afastam. Todavia, à medida que a moeda sobe no ar, sobe com ela a minha adrenalina, e o meu medo de perder algo que achava estar a começar a ter. Ouço o som metálico da moeda bater na mesa, abafado pela grossa toalha branca, com uma ou duas manchas de vinho tinto. Baixo o olhar. Coroa. Consigo vislumbrar alguma desilusão no seu olhar, muito disfarçada. Ela levanta-se, não me olha, põe sua carteira debaixo do braço, e sai. Ouço o barulho dos seus tacões ecoar no restaurante quase vazio, enquanto olho a moeda, morta, na mesa. “Puta do caralho, quem é o próximo palhaço com quem ela vai gozar?” – Não consigo pensar noutra coisa. Não sou nenhum menino, mas sinto-me perfeitamente manipulado. Quando penso, desde sempre tudo aconteceu como ela queria que acontecesse. O primeiro cigarro, o café, o jantar. Sorrio com o pensamento de que não me sentiria surpreendido se a moeda tivesse duas faces iguais. Peço mais um whiskey, e bebo-o ao longo de uns pensativos minutos. “Que mulher” – obviamente os pensamentos que correm na minha mente não são plenos em coerência. Alternam entre o elogio e o insulto. Peço a conta, pago, levanto-me, visto o meu casaco, e saio. O Vento permanece irado. Ponho o meu chapéu, e acendo mais um cigarro. Penso em apanhar um táxi, mas apetece-me caminhar um pouco. Assim o faço, viro para a direita e vou abrindo caminho entre as lâminas do Vento. Pára um táxi ao meu lado, como que adivinhando o meu iminente pedido. Todavia, a porta do lado direito de trás abre-se. Ela está lá. A minha surpresa deixa-me estático apenas por 3 segundos. Lanço o cigarro para o chão, e entro. Abdico de todos os momentos pensados que tinha vindo a ter até então, e ao entrar, ponho-lhe a mão direita na coxa esquerda, a mão esquerda entre os seus cabelos, e beijo-a. O taxista ainda pergunta para onde queremos ir. Desta feita é a minha vez…

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- Leve-nos a um hotel que ache que gostamos. Não somos de cá…

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Gone Wrong

Hard Sun - Eddie Vedder

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Hoje tudo é muito diferente. Diferente do que alguma vez imaginei. Hoje, sentado na lareira do meu pequeno apartamento, arrendado por uma pechincha nos arredores de Otava, pensando no porquê de estar a celebrar os meus 56 anos tendo como companhia apenas uma garrafa de Moët & Chandon, penso que hoje… tudo é diferente. Lembro-me do dia em que decidi ser como sou, fazer o que faço. Com saudades de Portugal, penso nas razões pelas quais tive de partir. Tinha tudo, tudo o que tanta gente sempre desejou, mas optei por abdicar de tudo. De quase tudo, os amigos permanecem. Estava prestes a casar, tinha amigos, tinha uma família que me amava. Tinha tudo, mas não me tinha a mim próprio. Tinha apenas uma imagem de mim que os outros desenhavam e me mostravam posteriormente. Eu, imaginando saber o que estava a fazer, apreciava a imagem, e concordava com ela. Todavia, certo dia, decidi ser eu próprio a fazer o desenho. Percebi que não podia permanecer no mesmo sítio de sempre, tinha de voar, abrir os braços e ir encontrar-me. Assim rompi o noivado, deixei em choque a minha família e a maior parte dos meus amigos.

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- Tenho de viajar… – dizia, sem ser compreendido.

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- Mas se tens tudo aqui! – diziam, em vão, para me fazerem mudar de ideias. Em vão. Como as estórias do outro.

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Ela não entendeu, e chorou, como chorou. Chorei com ela, enquanto tentava fazê-la perceber, tentando convencê-la a partir comigo. Em vão. Tentei fazer-lhe ver que não podia permanecer no mesmo sítio de sempre, para sempre, fazendo sempre a mesma coisa, com a mesma profissão, por melhor que fosse.

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Assim parti. Em busca não sabia eu do quê, parti. Parti com a promessa de voltar passado um ano, mas só passado quatro o fiz. Recordo-me, na viagem de regresso, de imaginar que estabilizaria, que então tinha percebido o que realmente queria. Contudo, ao chegar, sinto que, de certa forma, é impossível partir, e a única maneira de o fazer é estar constantemente em movimento. Ela, tinha casado. A família recebeu-me, pedindo para ficar. Disse que sim. Os amigos, esses, os que mantive, abraçara-me, perguntando se ficaria. Ao dizer que sim, uns perceberam, outros não.

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Não passou mais de 2 semanas. Era demasiado opressora a felicidade que via em toda a gente em ter-me de volta. Apenas me pressionava, lembrando-me que não poderia nunca partir… o mais estúpido é que isso acorrentava-me, o desejo que tinham de que ficasse.

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Por isso fiz o que fiz. Segunda-Feira, parto, novamente. Entre trabalhos em bares, em navios, armazéns, figurações em alguns filmes de porcaria, ia sobrevivendo, dum lado para o outro, sempre em busca de algo que hoje sei talvez nunca vá encontrar. Voltava a casa a cada 5-6 anos, mas de cada vez sentia toda a gente cada vez mais longe, e os pedidos cessaram. Pelo que voltava a casa cada vez menos.

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Hoje, passado tanto tempo, acho que não pertenço a lado nenhum. Terei feito bem? Divirto-me, como me divirto, basta querer… mas em momentos como estes, e em qualquer momento em que esteja sozinho, o peso da solidão esmaga-me a espinha, recorda-me do vazio que há dentro de mim, e atira-me sem misericórdia para as recordações de tempos em que o que procurava… era nada, já lá estava. Nesses momentos é quando mais me questiono. Todavia, descem de plano quando vejo um pôr-do-sol em Havana, quando mergulho no Índico em Moçambique, quando passeio de camelo nas Dunas do deserto marroquino. Qual o melhor? Qual a melhor opção? Teria sido possível conciliar tudo isto e ter percebido mais tarde que a única maneira de me encontrar fosse perceber que nunca me encontraria em pleno?

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Não sei, nem nunca vou saber. Sei sim que o facto de saber que nunca virei a saber é, em si, uma certeza. Não sei se a minha VIDA correu bem ou não, sei apenas que correu. Como correu…

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Entrega - VII

Cry Me a River

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Tivesse vindo de quem tivesse vindo a proposta, teria de ser aceite, obviamente. Partilhar um café e ficar por aí era do mais do mais penoso possível. Ela levantou-se, deixou-me sozinho sentado na mesa, e dirigiu-se ao bengaleiro. Antecipou o gesto que eu teria de pagar a sua conta, e saiu, esperando-me na rua. Levanto-me, mando uma mensagem a minha mulher, dizendo que não poderia jantar, pago, e após deixar uma simpática gorjeta, visto o meu casaco, ponho o meu chapéu, e saio. Parara de chover, mas o Vento mostrava-se agitado, como que adivinhando a agitação que ia dentro de mim. Apenas dentro de mim. Fora de mim, a pessoa mais calma e autoconfiante possível. Não tinha antecipado isto. Aliás, não tinha antecipado nada.

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Ela está à minha direita, com seu casaco longo, quase a tocar no chão. O seu cabelo esvoaça um pouco. Ela não o tenta domar. Acendo um cigarro, aproximo-me de si, com meu braço direito abraço sua cinta subtilmente, como que pedindo para seguirmos. Caminhamos um pouco, ainda sem falar, e levanto o braço, chamando um táxi. Entramos, deixo o cigarro ainda quase inteiro, na rua molhada, e sentamo-nos. Ambos na parte de trás, ela encosta-se e dobra a perna, olhando para a rua. Tiro o chapéu. O taxista, uma pessoa nitidamente local, pergunta para onde queremos ir. Enquanto penso em qual restaurante seria adequado, ela solta, em baixa voz: “Leve-nos a um restaurante que ache que gostamos. Não somos de cá”. Fico um pouco surpreso com esta súbita confiança no gosto de um taxista desconhecido. Vejo, pelo espelho retrovisor, que o taxista levanta as sobrancelhas, encolhe um pouco os ombros, e segue caminho. A noite aproxima-se a largos passos, os carros começam a ligar as luzes, e as ruas a ficar menos populadas. O taxista vai cantarolando algo, vejo pela janela os sem-abrigo a puxarem um pouco para cima os cobertores, algumas lojas a fechar.

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Eis que paramos. Não sei em que terá pensado o taxista, mas talvez tenha estabelecido uma relação entre o café de onde vínhamos e o restaurante que desejaríamos, pois o estilo é parecido. As paredes revestidas a madeira, e alguém a cantar, num canto, apesar de num palco não tão improvisado como no Vrijheid. É uma senhora, não muito nova, mas elegante, que canta envergando um vestido negro, com uma longa fenda, deixando ver a perna quase até à cinta. É fácil identificar o que canta. “Cry Me a River”, esse clássico já por tantas pessoas interpretado. As mesas estão revestidas com uma toalha branca, as cadeiras são pretas, da mesma cor de um par de velas que ardem lentamente perto dos pratos.

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- Porque temos de ter estes largos momentos de silêncio? – pergunto, após nos sentarmos. Olha-me nos olhos, fixamente. Eu faço o gelo do meu Martini rodar, lentamente.

- Pois eu acho que são os momentos em que nos entendemos melhor…

- Engraçado… isso soa-me a cliché… – atiro.

- E quem disse que os clichés são estúpidos? Por alguma coisa são clichés… quem sabe baseiam-se em verdades evidentes…

- Verdade. Mas acha que não nos entendemos tão bem… simplesmente falando?

- Se quer saber… eu acho que há momentos para tudo. E quando estamos em silêncio, estamos bem. Quando conversamos, estamos bem. Porquê arriscar a decidir qual desses momentos o melhor? – é fantástica.

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O jantar passou-se num ápice. As músicas não fugiram muito ao estilo que estava a ser tocado ao entrarmos. Mais uma coisa que não antecipara, o facto de ter bebido 3 Martinis, uma garrafa de vinho tinto e um whiskey, para rematar com estilo uma refeição repleta dele. Ela não tinha bebido muito menos, e eu notava isto, apenas no seu sorriso. Era um pouco mais longo, mais rasgado, e fazia-se acompanhar, vez por vez, por umas não muito sonoras gargalhadas. O ambiente aligeirara um pouco e estabelecia-se uma espécie de vínculo. Na verdade, o jantar demorou quase 3h, e fomos das últimas pessoas a abandonar o restaurante.

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Estamos para sair, falamos baixinho, debruçados na mesa, com nossos lábios nada longe, os dedos entrelaçados, e surge a grande questão… a questão que eu evitara desde o primeiro momento, surge dos seus lábios, cravando-se na minha expressão.

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- E agora?...

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Surpresa

Ouvindo Da Weasel – Mundos Mudos [clicar]

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Quem não adora pessoas que cheiram bem? Eu sei que adoro, e sei bem como ele cheira bem. Foi a primeira coisa que reparei nele. Bebericava o meu chá na esplanada do café, e o Vento traz até mim o seu aroma. Levanto os olhos e vejo-o chegar, rodeado dos seus, supunha, amigos. Com agrado, reparo que o aroma não me tinha enganado, e ele era como que uma personificação do que cheirava, algo belo, forte, viril.

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Foi quando comecei a pensar na melhor maneira de o abordar. Não o fiz de imediato, mas lancei uns olhares que me pareceu terem sido recebidos com agrado. Foi-se embora passado pouco tempo, mas o jogo estava no ar de imediato. Acho que antes de partir ainda se voltou para me olhar mais uma vez, e comentou algo com os amigos.

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“Quem não sabe é como quem não vê” – bem verdade. Digo isto pois depois desse dia em que reparei nele, comecei a encontrá-lo em alguns bares da VIDA nocturna de Évora. Um dia, em que o apanho sozinho, meto conversa com ele. Não digo que já tinha reparado nele, ele não diz que já tinha reparado em mim. Entre conversas casuais, começamos a encontrar-nos mais frequentemente, sem nada de especial se passar. Chega o dia em que os seus amigos decidem ir embora mais cedo, ele fica comigo. Ocasião perfeita. Após alguns shots bebidos e cervejas partilhadas, sugiro um bar que frequentava com frequência. Ele acede. “Primeiro estranha-se, depois entranha-se” – bem verdade, e não apenas para aquilo que Pessoa sugeriu. Bem verdade pois rapidamente senti que o tinha na mão. Claro que joguei as cartas na perfeição, um passo de cada vez, ele não era alguém fácil, sentia-se. Nessa noite, já com o álcool a toldar um pouco as nossas decisões, faço a sugestão de irmos até minha casa.

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O que se passou foi algo maravilhoso. Ambos sabíamos para o que íamos, sendo que o flirt tinha começado logo no bar. Fizemos amor de muitas maneiras ao longo de um par de horas, até que adormecemos, cada um para o seu lado, estafados, satisfeitos.

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Quando acordo não o vejo. Não estranho, na medida em que pouco passava das 14h. O que estranho é a sua reacção quando o vejo nas vezes seguintes. Completamente seco, fazendo comentários que não percebia com os seus amigos de sempre. Fico triste, mas tento ignorar.

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É quando o vejo, certa vez, e passado 2 semanas do nosso rendez-vous, numa noite em que já estava um pouco alcoolizado, que sinto os seus sorrisos estúpidos que se seguem de comentários com os seus amigos, que vou ter com ele e o chamo à parte.

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- Podes-me explicar o que se passa? Que não me queiras ver mais, tudo bem! Se para ti foi só uma foda, nada mais, tudo bem! Mas porque é que estás com essas merdas, com esses comentários e risinhos estúpidos?

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- Ouve lá!... Foda? – vejo que mente – Não sei, nem quero saber, do que estás a falar, mas vê lá se percebes que não quero nada contido! Desaparece, paneleiro do caralho!!