terça-feira, 29 de abril de 2008

Sentir

- Não, não sei se estás a perceber… – digo, perante a sua questão. Estamos sentados no canto do café. Diante de mim tenho Maria, e duas chávenas de café – Não se trata de apregoar, duma forma poética, um sentimento, uma ideia… é mesmo o que sinto. Sinto que o mais importante que temos na VIDA é a capacidade de sentir. Mais do que ter alguma coisa, é sentir alguma coisa…

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- E é grátis… – graceja – Mas… quando falas disso, parece quase um culto…

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- Bem, e… é um culto. Não é uma ideologia tipo… de uma seita… Não se trata de querer arrastar as pessoas para o meu mundo… Mas mais de tentar fazer com se arrastem para o seu mundo, para que o sintam, e possam ser mais felizes!

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- Mas não achas que isso é um bocado presunçoso? – pergunta. Alguém entrou, e sentimos uma lufada de ar fresco percorrer a sala e assentar na nossa pele.

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- Como assim?

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- Tipo… não me leves a mal, nem me interpretes mal… Mas quem és tu para saber se as pessoas sentem ou não, se são felizes ou não? És um iluminado? – sorrio.

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- ‘Tá-se bem, não te preocupes! – passa pela minha cabeça um exemplo que apenas confirmaria esta sua assunção – Não, não sou o iluminado! Mas descobri, ou tenho vindo a descobrir, o que me faz feliz…

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- Mas isso não tem de ser o que faz as outras pessoas felizes! – interrompe.

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- Eu sei, eu sei! Mas interrompeste-me. Era isso que ia dizer. Eu sei lá se é isso que faz as outras pessoas felizes! Sei que a mim me faz feliz, e o mínimo que posso fazer é lançar a ideia para o mundo, e… sei lá… é como… – tento organizar os meus pensamentos – Se cada pessoa partilhasse com o resto das pessoas aquilo que as fazem felizes, se calhar seria mais fácil para outras pessoas, que ainda não descobriram o que as fazem felizes, descobrir! Percebes? Ainda que não seja nenhuma das hipóteses que estão na mesa, ao menos pode fazê-las pensar, e… descobrir!

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- Mas pá… Eu conheço-te bem, e sei que não é o caso… Mas já pensaste que isso pode parecer um bocado treta! Quero dizer… Não podes dizer que te faltam coisas importantes… Não és pobre, não és feio, não és burro… e quando falas dessa aparente facilidade em ser feliz, pessoas que não têm coisas que tu tens podem sentir que é uma treta, porque estás a falar duma posição confortável… – faz-me sentido o que me diz, e já nisto tinha pensado.

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- Ok… eu percebo o que queres dizer… mas na verdade acho que essas coisas não têm de ser assim tão importantes…

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- Para ti! – interrompe.

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- Repara que eu disse “não têm de ser”, não disse “não são”… Simplesmente acho que estamos todos vivos, e isso é algo comum a todos nós, certo?... E conseguir perceber isso, que existimos, e muito provavelmente apenas uma vez, pode tornar tudo… pode fazer com que se adopte uma perspectiva da VIDA completamente diferente! É claro que todos nós temos dias de merda, situações de merda… cada um na sua escala! Quem sou eu, ou quem és tu, de certa maneira, para nos queixarmos se a nossa namorada nos trai, por exemplo, quando no mesmo momento um miúdo qualquer de 7 anos está a trabalhar numa linha de montagem na Índia? E quem somos nós para nos queixarmos de termos reprovado numa cadeira, quando um amigo, ou uma amiga nossa qualquer, acabou de apanhar o namorado ou a namorada na cama? Se pensarmos assim, até parece estúpido sentirmo-nos mal com estas coisas, pois poderia ser tão pior… Mas ainda assim sentimos! E é completamente normal!

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- Não sei se estou a acompanhar…

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- Pá, quero dizer que todos temos melhores, ou piores condições que qualquer outra pessoa, mas isso não nos pode… não nos devia impedir de fazer o melhor que temos com o que temos! Relativizar, perspectivar de diferentes maneiras a mesma coisa. Sentir a VIDA e aproveitar…

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A conversa acabou por se desviar. Enquanto escrevia esta estória,… este texto, não é bem uma estória… Enquanto escrevia este texto, sentado na minha cama, em Mysen, a ouvir Zero 7 (Destiny) com as luzes apagadas, quase que me prendia nos argumentos do personagem que questiona, que até foi criado por mim… Mas isso fez-me pensar, e pôr em palavras algo que vai voando no meu pensamento. Realmente todos nós estamos numa posição melhor, e pior do que tanta outra gente, e isso às vezes pode ser cruel. Pode ser cruel pois estamos tristes, e pensamos nesses tais miúdos na Índia, por exemplo, e em vez de nos sentirmos contentes por não estarmos tão mal assim, sentimo-nos culpados e sem direito de sentir o que sentimos. Claro que não são pensamentos que nos assolam todos os dias… E claro que estou a falar no plural, mas não sei o que vai na mente de cada pessoa…

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Mas sei que Sentir é fácil. Basta esticar a mão e já está. Não tem de ser o frio. Para mim será, concerteza, uma das melhores maneiras de sentir. Mas apenas uma entre milhares. É das coisas que gosto. Não aquele frio quando estamos agasalhados e ainda assim trememos. O meu frio preferido é aquele em dias de céu limpo, com o sol a brilhar, imponente, lá em cima. Os dias em que a nossa análise sai menos precisa e nos enganamos no vestuário, saindo de t-shirt, que nos faz arrepiar de vez em quando e sentir o Vento entrar nos nossos poros. Esse frio é fantástico. Melhor só no final duma corrida. O corpo está quente como esse sol, mas ao redor a temperatura desafia. Ainda assim, o calor que sentimos dentro de nós permite-nos sentir o melhor do frio, senti-lo mesmo na nossa pele, sentir as fronteiras do nosso corpo em contacto com o mundo.

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Sentir.

terça-feira, 22 de abril de 2008

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Canto

Miles Davis

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Canto. Canto apenas. Canto canções de toda a gente, desde que sejam tristes. Canto em palcos improvisados, canto em concertos, canto em casa, canto sozinha, canto para outras pessoas… Mas canto. Não sei como sou… se feliz, triste. Mas sei que gosto de cantar, gosto de cantar blues. Vejo os casais no restaurante onde canto, deliciando-se com a minha voz, e eu vendo as mesmas pessoas com diferentes companhias, as mesmas companhias… Não sei como sou, mas sei que gosto de pensar, e isso faz com que seja tão indecisa acerca da minha própria condição.

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Visto o meu longo vestido preto, acendo o cigarro com a boquilha de quase um palmo, e subo ao palco. Apesar de não saber como sou, talvez saiba como não sou. Não sou uma pessoa macambúzia, não me queixo com frequência, não choro. Sinto-me triste, por vezes, como qualquer ser humano, mas a força adquirida com o passar dos anos faz com que a abrace, incorpore, para deitar fora em cada nota que solto através das minhas cordas vocais.

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Quando estou no palco, sinto-me mais eu. No dia-a-dia não posso ascender na VIDA musical. Nunca abdicaria de quem sou, e isso faz com que cante neste restaurante como profissão, quando podia correr Hetwestenland, e quem sabe o mundo, soltando o que vai dentro de mim. Não percebo porque gosto tanto de blues. E porque as outras pessoas gostam tanto… se se está triste, apenas se fica mais triste, pensativo. Será uma necessidade que a pessoas têm?... De se sentir miseráveis vez por vez, de se massacrarem? Quantas pessoas vejo, quando canto nos bares, sentadas ao balcão, olham-me como se fosse sua, não porque estão interessados em mim, mas porque querem absorver toda a tristeza que apregoo, e encharcam-se em whiskey atrás de whiskey, que apenas os faz sentir piores…

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Curiosamente, eu sou igual. Quando chego a casa, e o peso da solidão que me espera se abate sobre mim, apenas deixo o Miles falar comigo, com um copo de baileys na mão e os meus cigarros, e fico sentada a admirar a vista sob New Eagles, a sentir pena de mim própria. Sabe tão bem…

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Onde Estás Quando Não Te Vejo?

- Onde é que estás quando não te vejo? – ela pergunta-me. Admiro o que me rodeia. Um lago gelado, no final duma montanha coberta de neve.

- Onde estás? – pergunto.

- Na praia. Está quente. – ouço. Num ouvido ouço-a dizer-me o quão longe está de mim, no outro chega-me Saeglopur. Não faço a mínima ideia do que os Sigur Ros me dizem naquele momento, cantando em islandês, mas sei o que ela me diz. Está longe, muito longe. “Onde estás quando não te vejo?” – ouço, novamente, badalando a pergunta no meu interior. Não sei, na verdade. Estou longe, mas onde é “longe”. Quando não me vês estou um pouco por todo o lado. Quando não te vejo, estou um pouco por todo lado. Percorro caminhos, sabendo que terei sempre um porto seguro, terei sempre um sítio onde chegar, e esse sítio és tu. Estico a corda e vou desaparecendo, com cuidado para não perder as migalhas de pão que guardam o caminho. Mas sinto que quanto mais longe estou, mais perto estou doutro sítio qualquer, ficando a saber, na verdade, apenas por breves instantes, onde estou quando não me vês, e ficando a pensar onde estarei, olhando os metros que me aguardam, tão perto, à distância de uns pequenos passos. Olho para trás e vejo as migalhas ameaçadas pelos esfomeados pássaros, que investigam se me deixaram, ou não, saber o caminho de volta.

O pão na minha mão escasseia, e faço por deixar as migalhas com menos frequência, até que deixo tão de longe a longe, que me sinto perdido. Confio demasiado na minha memória, e arrisco um pouco mais, ficando na dúvida se poderei, algum dia, voltar a casa. A confiança estica-se mais que as migalhas, e penso na justiça que haverá de… confiar apenas na minha memória. Queria-te aqui, para me ajudares a não esquecer o caminho, mas não podes vir, e dou mais uns passos sozinho, deixando-te sozinha mais um bocadinho. Penso na justiça de te deixar sozinha mais um bocadinho, ou na falta dela… Penso em ti e no Mundo, nas vivências que me podem aguardar, e penso se terei de optar por alguma. Não quero ter de optar, e quero ter-te a ti, e ao mundo, e dar mais uns passos em frente. Mas terei de optar? Será possível ter as duas coisas, ou será que uma invalida a outra de tal maneira, que uma vez com vontade de voltar, possa não encontrar as migalhas?...

- Onde estás quando não te vejo?

- Estou contigo, na mesma. – ouço-me responder. Penso na resposta e questiono quem estou a tentar tranquilizar. Ambos, quem sabe… Penso que, apesar de parecer bonita, e romântica, a resposta acaba por ser um mero sucedâneo, uma espécie de faz-de-conta que sabe bem ouvir e dizer, e penso que, efectivamente, trago-a comigo, mas que não há nada como tê-la à distância de um braço. Um estender a mão e sentir a sua pele. Viajar nesta e aterrar nos seus lábios, que húmidos me beijam, quem sabe preparando um pedido silencioso de “Não voltes a ir…” – mas a eterna questão permanecerá a remoer lentamente, admitindo a confiança dum amor que perdura, buscando na sua própria longevidade, também, mais uma segurança de auto-suficiência. A questão aparece, e a compreensão do outro lado existe, mas a dúvida ao partir, que nem existe, mas se faz mostrar, como uma aparição, de perguntar a mim próprio se… se pode ter as duas coisas.

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- Onde estás quando não te vejo? – pergunto. Estou na praia, sinto a areia quente nos pés, como um gelado e vejo um par de meninos a fazer castelos de areia. Está longe. Está num lago gelado, faz-me saber. Penso no significado latente, de eu estar no quente, e ele no frio, relembrando-me das vezes em que tivemos milhares de quilómetros entre nós. Custa-me, pois fico, e ele vai. Acho que me custa mais a mim, pois tudo permanece na mesma, mas sem ele, que vai, e nada permanece na mesma, imaginando eu que tanto se entretém com a novidade, e a busca de algo novo. Mas sei que, de certa fora, tem de ir, e compreendo, e por mais que me custe, por mais que não consiga evitar sentir as lágrimas salgadas passear na minha face, ao vê-lo partir, no aeroporto, sei que no fim, voltará para mim, sempre. Não percebo onde vou buscar esta confiança, pois mesmo quando está comigo, os planos na sua mente do próximo sítio a visitar fazem-se sentir, ora num discurso exaltado, ora num olhar dispassarado. Custa-me não poder ir, e vejo-me com ele em cada sítio. E digo-lhe, quando chega, que a todos os sítios onde esteve, me levará. Não gosto quando diz que os sítios novos nunca acabarão, e que me levará a outros onde ele próprio não esteve ainda. Não gosto. Quero estar onde esteve, quero sentir que quando se relembrar dos sítios por onde passou, eu possa fazer parte dessas lembranças.

- Onde estás quando não te vejo? – ecoa a pergunta.

- Estou contigo, na mesma. – o preenchimento que esta bonita frase que me dá é, infelizmente, efémero. Gosto de o ouvir dizer isto, mas não o posso abraçar e dizer-lhe que o amo. Não lhe posso tocar, não o posso beijar. Os dias passam, e ele chega, chega sempre. E com ele o sentimento de estar bem, de estar melhor. De saber que tudo o que amo, tudo o que aprecio, está à distância da mera vontade de estar.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

40th Godelieve

- Por favor, não vão querer arruinar a noite e o bom espírito deste restaurante com rockzinho moderno pois não? – peço ao empregado de mesa. Estou completamente bêbedo. Sei que se me levantar não cambalearei, e imagino, ou então apenas o espero, que a minha voz não tropeça nos meus dentes, mas sinto a realidade muito mais devagar. O empregado parece aflito.

- Sabe… não sou eu que escolho a música. Posso dar a mensagem, mas…

- Vá, tem calma. Toma 300 Repúblicas, metade para ti, metade para o disc-jokey. Ponham o jazzezinho do costume, ok? – a cara dele a olhar para as três notas diz-me que sim. Provavelmente apenas dirá ao disc-jokey para mudar a música e fica com o dinheiro todo, mas que me interessa a mim.

- Foda-se tens de estar rico! 300 coroas? Foda-se davas-me a mim e íamos para o carro ouvir música! – comenta Arie, com um embriagado sorriso.

- Ouve lá. Nota-se tanto que estou bêbedo como se nota em ti? – pergunto, com curiosidade. Ele tenta falar com calma, disfarçando o álcool que mora neste momento nas suas veias.

- Acho que se nota mais! – soltamos umas sonoras gargalhadas, eventualmente mais audíveis que o que seria conveniente. Mas que interessa o conveniente? Talvez assim Ruud perceba com o tipo de pessoa com que quer lidar e me deixe em paz de vez. Por falar nisso… Olho para a sua mesa, e penso quando algum empregado virá ter comigo com o convite.

- Ouve, amigo – peço – É provável que, a qualquer momento, já que já acabaram de comer, sejamos convidados para aquela mesa. Que dizes? Eu já estou por tudo. E cá para mim, com a bebedeira com que estou, parto a louça toda. – o olhar de sóbrio que quero ter espelha-se na cara de Arie que, subitamente muito sério, me suplica para ter cuidado com o que diga, e sugere irmos já embora.

- Assim ninguém convida ninguém, e vamos ver o resto da noite de New Eagles só os dois.

- New Eagles? Em que língua estamos a falar agora mesmo? – talvez agora seja a minha, a cara de sóbrio, pois detesto quando Arie se põe com estas merdas de inglesismos. Não tenho nenhum ódio, como muita gente, pela parte inglesa, mas não sou daí, nem falo inglês, e por isso não percebo a necessidade disto.

- Foda-se tu e os teus preciosismos! Nieuwe Adelaars! Qual é a diferença? – pergunta, com olhar hesitante. Penso.

- Bem, para continuar esta bela noite, meu caro amigo… tema número dois a evitar: política. De acordo?

- Completamente! – sorri o amigo, com um copo de vinho erguido no ar, esperando o toque do meu, que tarda em aparecer.

- Que foi?

- Bem, e lá vamos! – respondo, ao ver o empregado se aproximar, depois de lhe ter sido segredado algo ao ouvido por parte de Ruud. Não tenho problemas nenhuns em negar o convite. Nenhum. Mas tenho de ser sincero e admitir que a adrenalina e o desplante de estar sentado na mesma mesa com Ruud e com a sua mulher, que mais minha é que sua… é algo demasiado bom para negar.

- Só não faças merda!

- Jamais!

- Eu sabia que não ia rejeitar um bom brandy! – afirma o verme, sorrindo com quantas partículas tem. Imagino que falou aos seus amigos de como está a um passo de me ter do seu lado. Tenho diante de mim a oportunidade ideal de o humilhar. Penso se o quero fazer. E descubro ser estas mais uma das coisas que mudou em mim, com o passar dos tempos… Sempre tentei ser polido, nem sempre por cobardia, mas por respeitar os sentimentos de toda a gente, não obstante tudo de negativo que pudesse sentir pelas mesmas. Nunca vi prazer nenhum em espezinhar alguém. Mas… não sei se estou contente ou não com a perda dessa perspectiva… mas o que é certo é… que mudou.

- É bom que seja um brandy que valha a pena… – respondo, piscando, sarcasticamente, o olho. Ainda não matei o seu sorriso. Gosto de reparar em Arie, e na maneira como se sente desconfortável. É discreto, mas como o conheço sei reparar nos detalhes que o denunciam. Como a maneira como olha para Godelieve. Imagino-o a sentir ciúmes, e gosto disso. Imagino-o a querer estar também com Godelieve, como está com Helga. Não vai acontecer.

- Você e o seu sarcasmo…

- Entrou-lhe alguma coisa para o olho? – pergunto, como resposta à sua resposta, que se materializou da mesma forma que o meu prévio comentário. Arie está prestes a explodir. Ainda não olhei para Godelieve. Quando bêbedo, devo admitir, sinto-me o rei desta merda deste país. E porque não?

Ruud deverá ter já percebido a minha posição, e imagino que selecciona as palavras, vendo as possíveis ratoeiras. Serve-nos de Dom Quixote, o melhor brandy nacional, eleva o seu copo, e todos saboreamos a bebida. Olho para Godelieve, que permanece impassível. Quando o seu olhar se cruza com o meu, lança-me um sorriso nu, exactamente o mesmo que lançaria caso eu fosse… apenas eu. Como a amo. Como adoro esta sua posição, esta sua segurança. E como adoro a minha própria ambivalência de sentimentos, momentos antes chamando-a puta, e agora soçobrando perante a mesma reacção. Qual a piada de sentir sempre o mesmo em relação a tudo?

- Sabe, estava aqui a falar com os meus colegas, que certamente conhece

- Verdade seja dita, Ruud, – interrompo – Eu posso conhecer, mas o meu amigo não conhece, e o senhor nem teve a delicadeza de os apresentar…

- Sim, claro…

- Arie! Prazer! – diz o tímido, levantando-se um pouco da cadeira, e cumprimentando cada pessoa com um aperto de mão. À medida que o faz, Ruud, com um sorriso nervoso, vai enunciando o nome dos presentes, até que chega a Godelieve, e sinto a necessidade de tomar a palavra, tentando manter a difícil tarefa de a ter, para mim, como apenas Godelieve.

- Dizia… – deixo a dica para Ruud continuar o discurso. Parece-me confuso, e estúpido seria se assim não se sentisse, pois está a ver diante de si alguém completamente novo. Curioso como a sua posição e influência no governo é tão superior à minha, mas como sou eu quem tem, e sempre teve, a faca e o queijo na mão. Sei-o porquê, obviamente. Ter-me do seu lado apenas contribuiria para o aumento do seu poder, e quem sabe um dia substituir o actual líder. A necessidade de mais poder será sempre mais importante nas acções das pessoas que o poder em si…

- Sim, claro… Dizia aos meus caros colegas o quanto o senhor está a ser chato – com os dedos no ar e um sorriso galhofeiro, dobra os dedos, sugerindo aspas – connosco, e cisma em manter essa posição que não beneficia ninguém. Digo-lhe uma coisa… quase que preferia que se juntasse aos outros – diz, desfazendo-se, tal como os seus amigos, em gargalhadas – pois a sua indecisão mata-me! – Arie faz-me um sinal, pedindo-me para pensar bem na resposta.

- Ruud… parece que me conheceu ontem… A questão é que prefiro ficar com os meus tomates, e arriscar-me a ficar sem cabeça, do que entregar os primeiros para salvar a segunda! – genial! Bravo, Theodoor, bravo! Por dentro bato palmas a mim mesmo, e sinto uma adrenalina acutilante, tal como a minha intervenção, mexer-me nas vísceras – E assim me despeço, caros amigos – faço eu agora o sinal, dobrando os dedos e lembrando aspas – Foi um prazer – o mesmo.

- Sim, igualmente… – balbucia, reflexivo, Ruud. E acontece. Finalmente vejo aquele olhar maquiavélico conhecido em toda a ilha! Com toda a certeza fruto dos seus esforços para me conquistar, Ruud sempre se desdobrara em simpatias, e eu nunca tivera o prazer de ver esse olhar ameaçador que neste momento, muito provavelmente sem o querer, me atira. Godelieve mantém o seu papel, bravo para ela igualmente.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Godelieve - Thirty Nine

Vejo-me descolar-me do meu corpo, do sítio onde me encontro. Caminho em direcção à mesa, ignoro Ruud, e toco, com a minha mão direita, no ombro de Godelieve. Ele olha para mim, com cara de quem não percebe, naturalmente o que se está a passar, à medida que dou um longo beijo nos carnudos lábios da sua mulher.

- Então, que foi? – recupero as palavras de Arie, que me espera, uns metros adiante, sem perceber para onde olho. O seu olhar segue o meu, e vejo no seu que compreende a ligação entre mim e o político. Tudo isto se passa em poucos segundos, pelo que creio não parecer tão anormal a minha paragem. Faço sinal a Arie, que lhe diz que já a si me junto, e caminho, lentamente, na direcção da mesa para onde fui chamado. Estranhamente, o que mais ocupa o meu pensamento é o facto de, pela primeira vez, provavelmente ir saber o verdadeiro nome de Godelieve, e esta o meu. Penso em como posso contornar tal acontecimento.

- Ora viva! Que gosto em vê-lo por aqui! – cumprimenta o bicho. A primeira etapa foi concluída com sucesso, não me chamou, para já, pelo nome. Enfrento a mesa, onde tenho Ruud à minha esquerda, Godelieve à minha direita, um casal no meio, e dois homens no meio, do outro lado. Aparte da outra mulher que ali se senta, pertencem todos ao governo. Tenho de olhar para Godelieve, e é com surpresa que reparo que quase não repara em mim. A maneira como age faz-me questionar se alguma vez tudo o que penso que aconteceu, terá realmente acontecido. É demasiado genuína. Esboça um ligeiro sorriso, exactamente o mesmo que lançaria caso, em vez de mim, estivesse perante Arie, ou outra pessoas qualquer. Não valeria a pena dizer o quão bela se encontra, mas gosto de o fazer. Inexplicavelmente, uma vez que está a agir da “melhor” maneira possível, sinto-me fora de mim, incrivelmente irritado. Talvez por querer que o meu nível de desconforto seja partilhado por si, por alguém.

- Sim, sim, é raro aparecer por aqui, é verdade. – solto. Não me apetece perguntar se está tudo bem com ele, tampouco cumprimentar os demais. De qualquer maneira, o jogo de gato e rato, em que eu sou o rato caprichoso e perseguido, entre mim e Ruud quase torna a minha antipatia normal. Olho para o meu interlocutor, mas faço saltitar a minha visão entre os cantos da casa, buscando uma desculpa para constatar o desplante de Godelieve em se sentir tão confortável. O seu vestido é rosa, de um tecido que não consigo perceber. Mantém uma conversa, que pelos vistos já antes começara, com o gordo à sua direita, e a maneira como riem abertamente deixa-me com vontade de abrir uma fenda na cabeça feia e adiposa do político.

- Não se quer juntar a nós? Acabamos de pedir! – é-me pedido, como esperava.

- Não, obrigado, estou com um amigo… – respondo, duma forma mais simpática do que aquela que gostaria.

- Não há problema, há espaço para todos! – retalia. Os seus dentes amarelados coroados por uma pequena barbicha e um bigode assassino, expandem-se de uma forma que me deixa indisposto. O ódio que sempre tive por si eleva-se de maneiras inimagináveis ao pensar que nesta mesma noite dormirá com Godelieve.

- Obrigado, mas não vai dar. – finalizo, desta feita com a antipatia disfarçada que procurava.

- Ok, mas dum digestivo não se livra! – diz, quem sabe numa tentativa de ficar com a última palavra, à medida que me afasto

- Vamos ver… – faço-me ouvir, tentando eu, igualmente, e infantilmente, ficar com o veredicto final.

- Que foi, quem eram aqueles? – pergunta-me Arie, olhando para a mesa com um olhar curioso. Tento reparara se repara em Godelieve, mas penso que difícil seria não o fazer – Aquele não é o Ruud? – questiona, segundos depois.

- É… – respondo, enquanto procuro, com o olhar, o empregado, que saltita de mesa em mesa, com um sorriso estúpido e artificial. Quando o seu olhar encontra o meu faço-lhe sinal para se aproximar.

- Não me digas que andas metido em merdas com aquele gajo! – exclama, surpreso, o meu amigo. O seu olhar é preocupado e a antecipar a desilusão caso, imagino, a minha resposta seja afirmativa. O empregado aparece. Pedimos mais dois portos como aperitivo, e pato selvagem com gambas e arroz setentrional, um dos pratos mais típicos da nação. Quando acata o pedido e volta a desaparecer, acendo um cigarro. – Estás a ouvir? – insiste – Andas metido em merdas com aquele gajo?

- Amigo… se queres que te diga a verdade… ando metido em merdas com aquele gaja… – confesso. Não gostei de me ouvir tratar Godelieve por “gaja” e penso que, felizmente, Rudd não teve a cordialidade de me apresentar à sua mulher-troféu, que, puta, não me ligou um caralho. Como é que me arrependo de lhe chamar “gaja” e ao mesmo tempo a chamo de puta sem me arrepender? Arie ri.

- Sim, e eu também, mas é só aos fins-de-semana… tu tens as Quartas não é? Eu queria o resto da semana, mas ela também tem de dar alguma coisa ao marido não é? – graceja. Pobre alma. Está prestes a ter talvez a notícia mais difícil de digerir dos seus últimos tempos. Já a teve, mas a confirmar a sua dificuldade de assimilação, nem sequer a absorver. O meu olhar permanece pregado àquela mesa, onde Godelieve continua em amena cavaqueira com o cavalheiro lambe cus número um de toda Hetwestenland. Não respondo a Arie, o que acaba por ser uma resposta muito mais eficaz – Espera… Estás a brincar comigo, não estás?

- Que te parece Arie? Que te parece? – respondo. Ao mesmo tempo sinto algum fumo ir-me para o olho direito, que massajo. A cara de Arie é impagável. Olha para mim como se não me visse há três anos e eu tivesse engravidado. – Meu deus pá! Aquela gaja

- Não lhe chames de gaja.

- Ok, que interessa? Aquela… senhora, é de quem tens falado? Por quem deixaste Helga? A mulher de Ruud? Tu estás completamente doido? – está a falar mais entusiasticamente do que eu antecipara.

- Fala mais baixo.

- Mais baixo? Tu já percebeste na merda em que te estás a meter? – sussurra, curvado sob a mesa, para eu ouvir melhor.

- Arie… - respondo, com um sorriso mais descontraído do que realmente estou – Não te lembras do que combinamos? Nada de conversas de mulheres hoje… Vamos falar de tudo, menos da merda em que estou metido, ou da merda que andas a fazer… – peço. Efectivamente custa-me ouvir palavras de repreensão dum gajo que anda a foder a minha ex-mulher sem mo dizer. Quer dizer alguma coisa, talvez perguntar o que quero dizer com aquilo, mas faço sinal para abandonarmos o assunto.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Godelieve - 38

Sexta-Feira acontece. Helga liga-me mais uma vez, pergunta se está tudo bem.

- Queres a verdade mesmo?... – pergunto, não conseguindo, para meu desprazer, disfarçar alguma irritabilidade. Não consegui controlar, pensando que o bem ou mal que me sentia, não sabia de onde vinha… se de não estar com Godelieve, se por tudo o que se passava com Helga e Arie, se por tudo junto… Penso nisto… Não sei se poderei dizer que me sinto mal por não estar com Godelieve, apenas porque quando estou consigo me sinto bem… O foco da questão aqui está no estar, não no não estar. Se ela não existisse e eu estivesse na mesma situação (o que seria impossível), sentir-me-ia da mesma maneira… São muitos pensamentos apenas para o intervalo de segundos entre uma conversa, eu sei, mas o que é certo é que viajam em mim…

- Se calhar não quero… Adeus… – responde. Sinto-me contente ao, à medida em que se despede, ver traços da antiga Helga, essa que toda a VIDA conheci, e que já não me atrevo de nomear como a “verdadeira” Helga… A sua atitude é, notoriamente, a da nova versão que me quer mostrar, mas há aspectos mais importantes, ou evidentes, do que o que se faz. Tantas vez a maneira como algo se faz revela tão mais…

Penso que falta apenas um dia para ver Godelieve, e penso, estupidamente, que Segunda-Feira estarei, novamente, a duas, três, não sei quantas semanas de a ver. Não quero pensar nisto… Sem querer estou a sabotar todo o prazer da antecipação, e a preparar-me para minar cada segundo em que esteja consigo. Quando tiver o seu aroma perto de mim, quero senti-lo, quero beijá-lo, agarrá-lo como se comigo ficasse para sempre. Não quero pensar em quando não o vou ter, mas simplesmente tê-lo. Falta um dia. Se aparecer. Se não aparecer vou a sua casa. Seria capaz disso? Não tenho dúvidas. Se não aparecesse iria a sua casa e, com toda a calma, exigiria a sua presença. Ou isso ou atirar-me da varanda do meu prédio…

Estes pensamentos entram e saem do meu espírito de maneiras que não os consigo agarrar e analisar, pensar. Todavia, fico a pensar no que tinha acabado de pensar. Penso na impossibilidade que havia de isso acontecer, mas ao mesmo tempo penso até que ponto me pode deixar de desesperado. E até onde isso pode levar… Até onde pode levar?

Decido arriscar, não me importar, e ligo a Arie. Faz tempo que não o vejo, e apesar de tudo, sei que é um bom amigo… Está confuso e é um cobarde, é certo. Mas não podemos ser todos perfeitos… Ouço o telefone tocar, e penso se o que acabo de pensar (mais uma vez a pensar nos meus próprios pensamentos) não será uma mera desculpa que o peso da solidão me obriga a inventar… permitindo-me assim ter companhia de um amigo por uma noite sem achar que estou a trair os meus princípios… Tenho a certeza que não é isso. Mas há muito tempo que deixei de confiar nas minhas certezas…

- Então amigo! Ao tempo que não te vejo! – diz, mal atende.

- Olá rapaz, tudo bem?

- Por cá tudo óptimo! Mas ouve… é mesmo verdade, já não estamos juntos há muito tempo! Andas meio estranho! – repete, com um tom, arrisco a dizer, preocupado.

- Como assim?

- Então… por isso mesmo que te digo! Cá para mim andas é sempre lá com a outra e já nem tens tempo para os amigos! – liberta, tentando ser engraçado, mas sem o conseguir.

- Não, não é isso… Tenho andado ocupado com outras coisas. Mas… Estou a ligar-te para perguntar se não queres ir jantar fora logo. Pôr a conversa em dia! – sugiro.

- Heia pá… Olha tenho umas coisas combinadas, mas não te preocupes, cancelo tudo. Afinal de contas se faltar hoje só me voltas a ligar daqui a dois meses, por isso… – tenta novamente ser engraçado mas desta vez, ainda que contra a minha vontade, os meus lábios organizam um sorriso e as minhas sobracelhas levantam-se um pouco. Não penso se abordarei o assunto ou não, e chego, para minha estupidez, a pensar numa estatégia para que o jantar corra da melhor maneira…

Marcamos no Sun, um restaurante que frequentávamos poucas vezes, mas com muito bom aspecto. Pensando bem, talvez fosse essa a razão por detrás das nossas poucas presenças no estabelecimento. Tendíamos a procurar locais mais calmos, rústicos. Começou, ainda que Arie não o saiba (e eu apenas recentemente tenha descoberto), por ser assim numa tentativa minha de não me encontrar com colegas de trabalho, que enchem estes lugares como formigas num pacote de açúcar. E não era raro convidarem-me/nos para as suas mesas, oferecerem bebidas, entrarem em conversas que não queria ter, entre muitos outros assuntos que preferia evitar. Penso no porquê de, desta vez, me ter lembrado deste restaurante. A primeira coisa que salta à minha mente é o simples facto de ser tão raro aqui aparecer, que vejo a mudança como bem-vinda. Mas continuo a pensar… e penso se será um desafio que me coloco… de, caso aconteçam, rejeitar convites de pessoas bem colocados, simplesmente porque me apetece estar com o meu amigo…

- O Sun? Muito bem… – comenta Arie, ao chegar. Eu esperava por si, bebendo um Porto como aperitivo, no bar do restaurante. O tema deste segue o do anterior. Tudo muito branco, numa tentativa quase bem conseguida de sugerir classe, muita classe. Apenas quase bem conseguida pois, na minha opinião, chega a ser demasiado. Olho à minha volta, e sinto as pessoas, eu e Arie incluídos, como intrusos neste espaço, sendo que tudo é, como disse, branco, apenas retirando a monotonia a esta cor linhas elegantes negras que atravessam, aleatoriamente o chã, o tecto, e as peças de mobília. O balcão parece de marfim e faz-nos sentir que cometemos um pecado terrível ao não pousar o copo numa base. Arie traz consigo um sorriso genuíno, que me revela estar feliz de me ver. O meu é mais cínico, apesar de nem por isso ser menos verdade que estou, igualmente, feliz de o ver. Vem vestido com um casaco braço, calças da mesma cor, sapatos, gravata e cinto pretos. Obviamente fê-lo de propósito.

- Para variar… Foda-se estás com uma elegância… – digo, sem mentir, rodando no banco e apreciando melhor. Ele roda sobre si mesmo, em jeito de brincadeira e sorri. – Antes de mais nada, uma coisa! – digo, elevando a voz, com o dedo no ar – Nada de conversa de gajas hoje! Combinado? – peço, revelando assim a minha estratégia para ter uma noite perfeita, sem ver em mim constantemente a vontade de lhe partir um joelho.

- Por mim tudo bem. Mas suspeito que assim não vais ter nada de que falar… – diz, baixinho e desafiador, ao se sentar. Devolvo a piada com um sorriso sarcástico. Arie pergunta o que bebo, pede o mesmo para si. Frustra-me não perceber o que está a tocar. Blues, mas não sei o quê. O melhor que esta cidade em que em cada canto se encontra um vício e merda, são os bares, os restaurantes, os imensos sítios onde se ouve tão boa música…

- Vamos para a parte o restaurante? – sugere, ao acabarmos, sincronicamente, o nosso segundo Porto. Assim o fazemos. Apenas temos de nos levantar, caminhar uns 6 passos, virar à esquerda, e temos uma vista sob o amplo salão. Essa vista mostra-me o que quero ver, mas o que não espero ver. Uns metros à nossa frente, de costas para nós, está Godelieve. Penso se será ilusão ou coincidência, mas vejo o largo sorriso de Ruud a fazer-me festas, e a sua mão elevar-se no ar, chamando-me.

- Então, que foi? – pergunta-me Arie, uns metros à frente, surpreendido ao ver-me estático.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Abandono

Sparta – Echodyne Harmonic

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Não sei que preciso fazer mais para ser ouvida… Será que a única maneira possível de ser ouvida é calar-me para sempre? Imagino, contemplo a hipótese, que sei que nunca vou realizar. Não sinto as forças necessárias, e sinto sempre, estupidamente, eu sei, que algo vai mudar. Mas nunca muda, nunca muda. As pessoas não se chegam a mim. Permaneço no meu canto, que criei há anos e existe apenas dentro de mim, o meu canto que me separa de toda a gente, onde posso fantasiar que a parede que me separa do mundo foi criada por mim.

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Mas não foi. Sempre me entreguei em demasia… ou melhor, durante muito tempo me entreguei em demasia. Entregava-me a toda a gente, não da forma sexual que sei que tanta gente queria, mas entregava-me de alma e coração a todos, dando toda a ajuda que acreditava ser necessária… não sei se o fazia para que depois retribuíssem, hoje em dia questiono tudo em mim, ou se o fazia em demasia, acabando por afastar as pessoas de quem mais gostava. Odeio-me por isso, por ter desempenhado o único papel no meu isolamento de tudo e de todos. E odeio as relações humanas, por ninguém perceber do quanto preciso, e sempre precisei, de alguém que me estenda a mão,… e por permitirem que uma pessoa seja deixada ao abandono apenas por se preocupar…