segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Por Pouco Pecado - Parte IX

Não sei quanto tempo durou a viagem. Tentava focar-me nos meus sentidos. E conseguia, como conseguia. O único sentido que saía a perder era a visão. Queria ter os olhos abertos, para ver o seu rosto, com os seus próprios belos olhos fechados, a beijar-me. Queria ver aquela pequena linha que fazia com a testa, num esgar de prazer e desejo. Mas era difícil, demasiado difícil. O que eu era então, nos sentidos, era as minhas mãos, que passeavam nas suas longas cochas, no seu cabelo revolto. Era o meu nariz, que cheirava a mistura indecifrável do aroma do seu champô com o seu perfume. Era os meus ouvidos, que escutavam uma respiração em uníssono, feita por duas pessoas. De vez em quando parava, afastava um pouco os lábios. Os pensamentos morais, esses tinham ficado na rua, a morrer ao lado do cigarro que se ia apagando. Parava, afastava os lábios e olhava-a. Ela abria um pouco o sorriso, e puxava-me para si.

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- Acho que este vos convém. – diz o taxista, num sotaque estranho. Afasto-me, encosto-me para trás. Espero uns dois segundos para conseguir tomar conta de mim, e abro a porta. Ela espera. Saio do carro, dou a volta por trás, abro a sua porta. Ela sai, e fica voltada para o hotel, que ficava do lado esquerdo do táxi. Fecho a porta, pago.

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- Tem alguma preferência? – pergunta-me o recepcionista. Sinto algo estranho. Ao entrarmos, lançara um olhar para o ar, depois de avistar com quem vinha. Seria impressão minha, concerteza, mas parecia-me que se conheciam.

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- Qualquer um. – respondo. Voltamos um pouco atrás na nossa relação. Apenas uma meia hora atrás, na altura em que não nos tínhamos beijado, como se o táxi tivesse sido um portal do futuro. Voltamos a reagir com o outro como se nada se passasse. Estes jogos, apesar de interessantes, confundiam-me, e nem sempre sabia como reagir. Entramos no elevador.

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- Conhece o recepcionista?

- Como?

- Ele fez um olhar qualquer que estranhei, quando a viu… Conhece-o?

- Que resposta espera?

- Uma honesta.

- Pois… Sabe que posso dizer-lhe que não, e certamente isso será o honesto. Mas se o conhecesse, que acha que diria?

- O mesmo que diz agora mesmo…

- Precisamente. – fico na mesma. O elevador tarda mais uns 10 segundos a chegar ao destino, 13º andar. Esqueço esta conversa, esqueço o que me possa ter parecido, e saímos. Não sei se ela estranha, ou não, o facto de não a deixar sair primeiro. Não me apeteceu.

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Caminhamos os metros que nos separavam da porta 1313 em silêncio.

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- Acha que isto é um sinal? – pergunta ela, apontando com o olhar para o número inscrito na porta.

- Eu acho que sim, deve ser. Mas na dúvida, gostaria de descobrir.

- A resposta está perto…

- Perto demais… – abrimos a porta e entramos.

2 comentários:

S. disse...

Já sei!!! Ela vai matá-lo!!! lol
Então voltaste de viagem, postaste e não avisavas! Excelente, como sempre, estou deserta por saber o que se passará do 1313 para dentro... não demores demasiado!

Cati disse...

O que estará por trás da porta... esperemos e vejamos que reviravolta nos reservas.