Banho tomado, apetece-me mexer-me um pouco. Ligo a aparelhagem, e passeiam pelo ar as palavras de Dave Matthews. Reparo que a cortina está recolhida, e o meu olhar alcança uma imensidão para lá da janela, que aberta me permite sentir um pouco da brisa marítima de Quarteira. Visto apenas as calças de pijama, deixo a música entrar dentro de mim e mover o meu corpo. Quando abro os olhos, vejo-o. Está, como em tantas outras noites, na sua varanda, a fumar um cigarro. Sei quem ele é, sei como é, e uma parte de mim gostava de o ter aqui neste mesmo segundo. Gosto de dançar para ele. Apesar da distância, e de não ver bem a sua cara, levanto o braço direito e chamo-o, lentamente, com o meu dedo gesticulando e pedindo a sua presença. Ele deixa cair o cigarro e vai para dentro. Não vem. Não sei como eu reagiria se viesse, mas só de pensar sinto nascer em mim uma agradável adrenalina. Danço mais um par de músicas, e sento-me no sofá. A noite está quente e agradável, e sento-me no sofá, à procura da lua.
A pequena porção de adrenalina que sentia apenas em pensar como seria caso ele viesse ter comigo multiplica-se exponencialmente em menos de um segundo. O barulho da campainha deixa-me
– Desculpa... Sou o vizinho da frente, há muito tempo que me chamas… – diz, um pouco sem jeito.
– Desculpe, não o conheço, e não sei a que se refere. – Respondo. E fecho a porta. Fico no mesmo sítio, observando a madeira escura, e vendo que permanece, igualmente estático, do outro lado. Se dantes me sentia ridícula, agora sinto-me também cruel. Tantas vezes o chamei… ele veio, e fui incapaz de o deixar entrar. O mais estúpido é que eu queria tanto como ele, tê-lo ali. Volto a sentar-me no sofá, pensando na minha reacção.
O antes… a fase que precede uma relação sempre foi o mais importante para mim… Desde sempre que a fase de sedução me seduziu completamente. Duas pessoas a desejarem-se mutuamente, a jogarem as cartas com cuidado, com bluffs, com jogadas arriscadas… Mas acho que a qualquer altura comecei a ficar completamente viciada neste “antes”, que tantas vezes faz com que não possa ter um “agora”. Que merda! A adrenalina que sentia ao pensar o que passaria caso ele viesse fazia-me sentir bem. Como se de uma droga se tratasse, gostava de a sentir, de a alimentar com provocações todos os dias, sempre com a ideia que um dia ele apareceria, mas com a incerteza de como eu reagiria. Tê-lo ali transformou esse sentimento agradável numa tempestade de certezas misturadas com dúvidas, que simplesmente me fizeram optar por esquecer tudo.
5 comentários:
Live Fast Die Young.
favoritos dos favoritos dos favoritos dos favoritos. assim, no fundo, chegam-se a todos os blogs.
i really think you should go to vegas, my friend.
Pois, isso por vezes acontece... mas foi uma pena ela não o ter deixado entrar!...
Beijos grandes
fez-me lembrar uma das estórias que escreveste no teu livro...os papeis estavam eram invertidos...:)
Há mt que tinha curiosidade em saber a parte "dela"... :)
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