sexta-feira, 2 de setembro de 2005

A Mulher do Metro - Parte II

Os dias passaram, e com eles, também eu. A cada dia ia sentindo-me mais abaixo, mais abaixo, até não saber o que estava a fazer, não saber como o fazer, não saber nada. Não me saía da cabeça aquele olhar triste, a sua face, bela... Queria fugir de onde quer que estivesse e ir salvá-la. Imaginava um sem número de coisas que lhe pudessem estar a acontecer, e imaginava-me a socorrê-la.
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Tinha mais pena das pessoas. Tinha de olhar muito bem para alguém antes de o roubar, sabendo que esse dinheiro não lhe faria falta. Estava com uma moral, dentro desta imoralidade, algo que nunca antes acontecera em mim. Estava, decididamente, diferente. Tinha de tratar disso. O mais rápido possível.
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Começei a vigiá-la. Não me foi difícil chegar onde morava. Da primeira vez, eu levava vestido um pullover vermelho, umas calças de ganga azuis. Enconstei-me a um lampião fundido em frente ao seu prédio de azulejos foleiros castanhos e esperei, fumando cigarro atrás de cigarro. Quando chegou vinha vestida, embora com outras roupas, num estilo exactamente igual a quando a vira da primeira vez. Classe, classe. Senti algo que nunca havia sentido em toda a minha VIDA. Ela era boa de mais para mim. A sua beleza, o seu ar, o seu estilo, classe, era atributos que eu nunca poderia alcançar.
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Apago o cigarro no ferro verde do lampião e sacudo esses pensamentos da cabeça. "Nenhuma mulher é boa de mais para mim. Tenho sempre o que quero. E se quiser esta, tenho-a." - eu próprio não acreditava muito no que diza, mas tentava, lá isso tentava. Estava perfeitamente consciente que esta tinha algo de especial, algo diferente. Algo que eu não podia esperar por saber o que era. [continua]

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