quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Tal - Parte XII

Crawling up the Hills – Katie Melua

Learnin’ the Blues - Katie Melua

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Acordo. Segunda-Feira. Trabalho, trabalho, e essas coisas me esperam. A minha cabeça lateja um pouco. Olho ao longo do meu corpo e percebo que, não só estou vestido, como estou na sala. Claro. Levanto-me, dispo-me, deixo a roupa no sofá. De boxers, vou até ao canto da sala, onde ligo aparelhagem. Vamos ver… Katie Melua, sim. Soa Crawling up a Hill. Vou à varanda, acendo um cigarro. Penso se deixarei alguém bilhete no café. Penso se me deixará a mim ela algum bilhete. “Bem, acabou, é oficial” – penso, descontraidamente. Sinto alguma adrenalina fervilhar, como o meu lado mais louco a morrer lentamente dentro de mim. Não me tira um certo sorriso malandro dos lábios, apesar de me fazer duvidar. Volto costas, vejo minha mulher. Que cara, meu deus…

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- Que foi? – pergunto, ao vê-la olhar para mim como se não me conhecesse.

- Que foi? Isso pergunto eu a ti! – hei – Chegas ontem às horas que chegas, nem dizes nada, dormes na sala, acordas, roupa por todo o lado, acordas-me com a música nestas alturas… Por isso eu é que pergunto, o que é que se passa! – o tom dela não me agrada de maneira nenhuma. Imagino Godelieve a acordar agora, mandar um sorriso para qualquer lado ao pensar em mim.

- Tem calma querida… - digo, descontraidamente – Temos de fazer coisas que não estão previstas de vez em quando… senão a VIDA torna-se um marasmo total… - não me acredito que esta desculpa esfarrapada acabou de sair dos meus lábios…

- E tu ainda me dizes para ter calma! Marasmo? A tua VIDA aqui, então, dizes tu, dá-te marasmo?? – ia continuar a falar, num tom de voz crescente, mas interrompo-a.

- Olha sabes que mais, esqueci-me que preciso de fazer uma chamada! – E deixo-a a falar sozinha na sala, fechando eu a porta da varanda atrás de mim. Escusado será dizer que apenas tinha comigo o maço de tabaco e um isqueiro. Pelo que acho que deve ter ficado ainda mais chateada ao ver que simplesmente não a queria ouvir. Sorrio, sarcasticamente, ao ouvi-la barafustar sozinha. Incrível como tenho consciência da merda que estou a fazer, mas não me importo e continuo-o, qual menino rebelde. Não consigo descrever o gosto estranho que aquilo me dá. Como se Godelieve me tivesse vindo acordar de um sono, dum sonho, que era a minha VIDA, rotineira, sem altos e baixos, mas apenas um longo período de algo que eu pensava ser um alto…

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Entro na sala, toca Learnin’ the Blues. Sirvo-me de um whiskey, sento-me no sofá, e vejo as notícias. “A beber de manhã” – ouço, lá longe. Passado meia hora, visto-me, vou para o trabalho. Gosto da descontracção com que acordei neste dia. Especialmente a liberdade de fazer o que me apetece.

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O dia passa-se bem, e ao voltar, penso em ir ao café. Afasto esse pensamento, mas sinto uma ansiedade estranha ao o fazer. “E se ela me deixou alguma mensagem?” – penso. Mas penso de novo, e penso que se tudo o pouco que se passou me fez mudar de perspectiva, duma maneira que me agrada, mas que também me assusta, o que poderia acontecer, caso continuasse nesta estrada?...

3 comentários:

Sendyourlove disse...

e um dia acorda-se e vira-se a vida de cabeça para baixo...

Hands of Time disse...

quem viver verá!!!

Anónimo disse...

bom comeco