domingo, 27 de janeiro de 2008

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Passou uma semana. Chego a duvidar se percebeu a genialidade da minha mensagem. O ambiente em casa, esse, permanece o mesmo. Uma mistura de sorrisos mal disfarçados e de caretas genuínas. O que estranho… temos tido mais sexo do que o costume, bastante mais. O processo tem o seu quê de belo. Deito-me, sempre mais tarde que ela e muitas vezes “torcido”, tento dormir. Ela acotovela-me para eu me chegar mais para o meu lado, mas deixa o cotovelo permanecer em cima da minha bacia. Suave e gentilmente, pego na sua mão e faço-a deslizar até os meus abdominais. Ela abre a mão. Sinto que sente as linhas que sulcam a minha barriga, e faço sua mão descer um pouco. A partir daqui, é mais ou menos seguindo a lei do improviso. Por vezes roda rapidamente e ataca-me, outras vezes masturba-me, apenas, outras vezes fá-lo um pouco e puxa-me titubeantemente para si, outras vezes sou eu, outras vezes…

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O mais estranho, mas que nem estranho, é o facto de, ao acabar, tudo volta ao normal. No dia seguinte acordamos e conversamos o indispensável, não há sorrisos, não há merda nenhuma. Tenho reparado, contudo, na sua expressão cada vez mais triste. Em pensamentos mais mórbidos e radicais imagino como seria se se suicidasse. O quão esmagado pela culpa eu me sentiria. Claro que no momento seguinte afasto para longe estes pensamentos ridículos, convencendo-me do quão impossível isso é de acontecer.

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Quando acabamos de fazer amor, ou sexo, ou seja o que for, permaneço, muitas vezes, e contrariando o estereótipo acerca dos homens na cama, a olhar o tecto, reflectindo. A minha mente leva-me para sítios que me fazem gostar menos da minha mulher, pela sua hipocrisia. Suponho que esses sítios para onde a minha mente me leva sejam ela própria, onde a lei é minha e sou senhor. Penso que é hipócrita, talvez até falsa, pois é capaz de passar o dia todo sem me falar, mas ao fim da noite, vem ter comigo, ou eu vou ter com ela e esta não recusa, cedendo ao instinto que temos dentro de nós. Sinto isto como uma VIDA dupla de posições. E sinto-me, especialmente, nestes momentos, feliz comigo e com a decisão que tomei, ou fui tomando, de ser eu mesmo. Levanto-me, acendo um cigarro. Penso se tive azar de, sendo eu mesmo, levar uma VIDA que pode não agradar a tanta gente, mas penso que, não só não temos o dever de agradar a todos através da infidelidade a nós próprios, como não é uma questão de sorte ou azar ser quem somos. Somos o que somos, ponto final. Não é uma questão de sorte, mas, creio, de natureza.

3 comentários:

Catarina M disse...

=)

Esta eu gostava de ver espalhada em muitas páginas...

Silvia Madureira disse...

Tens um post importantíssimo no meu blog.

beijo

X & Y disse...

Este post tão sexual sobre um casamento não muito feliz deixou-me a pensar na maturidade do autor.

Creio ser um seguimento de uma história que ainda não li... acho que ajudava à sua completa compreensão que as sequências fossem postadas umas após as outras e não o contrário.