quinta-feira, 20 de março de 2008

Sentir

Oceansize – Unravel

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1 segundo… tudo começa. Como que um início do fim desde sempre desejado. A VIDA não lateja em mim. Caminho pelas ruas e vejo-me desaparecer um pouco por todo o lado. Volto-me para trás e procuro um vestígio de um “eu” desaparecido. Olho para as pessoas que passam por mim na rua, pergunto-lhes, com o olhar, por mim, se me têm visto… ninguém responde. Nunca ninguém responde. É-me inútil comunicar, tentar fazer-me valer no meio de tanta paixão mal orientada. Ouço bater em mim os passos da música, lá longe, que ouvi nesta manhã e não consegui esquecer.

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2 segundos. O voo pede mais, eu peço mais. Sempre pedi mais, sempre tive tudo. Mergulho em mim, agarro a minha frustração, e critico a minha própria incapacidade em amar tudo o que me deram. Tenho de ser castigado por uma falha tão minha, desde sempre tão minha… em não conseguir apreciar nada da VIDA?

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2 segundos e meio. Pena de não me sentir, nem no derradeiro momento, em que tudo deveria ser importante, e estupidamente nada o é. Viajo dentro da mente das pessoas que quem mais gosto… não… das poucas pessoas que não me são indiferentes… procuro um objecto sólido, na mente e na memória de cada, que os faça lembrar-se de mim e sorrir, que os faça lembrar-se de mim e sorrir, e não consigo encontrar nada. Vejo reticências que não acabam dentro de toda a gente de quem já, alguma remota vez, gostei.

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Quase 3 segundos. Vejo à minha frente o futuro, como uma gigante bolha cheia de nada, onde mergulharei e não voltarei a acordar. Vejo o futuro como uma simples abstinência de presente. Na desenfreada corrida que sempre tive de apenas sentir algo dentro de mim, ganhei o medo de realmente o fazer. Cedo caiu em mim a consciência de que sentir estava a milhas de distância. Nada chegava à minha pele, nada entrava dentro de mim. Daí veio o medo. O que sentiria se descobrisse alguma vez que sentir, realmente, estava ao meu alcance?

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3 segundos. Agora sei. Tenho sensações, mas que morrem sem deixar qualquer descendência em forma de sentimento. Tudo o que senti nesta corrida esqueci no milésimo de segundo seguinte, partindo para um qualquer lugar em mim que nunca tive a coragem de conhecer. Caio no rio gelado. As sensações cessam, os sentimentos permanecem nulos.

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