domingo, 17 de fevereiro de 2008

Godelieve - "/

- Que sabemos acerca um do outro? – pergunta-me. Lá fora anoitece. Antes de me perguntar isto pensava no quão mágico estava a ser passar toda uma tarde com Godelieve. Ter mais uma noite pela frente. Mais um dormir, acordar, e ver ao lado a pessoa por quem daríamos a VIDA no segundo seguinte. Se no dia anterior sentira o Theodoor renascer, agora vi-o dentro de mi, completamente recuperado, dono de si, não necessitando mais de disfarçar autoconfiança ou charme, mas vivendo estes atributos como se criados por si.

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- Minha querida… eu sei tudo acerca de ti que preciso de saber…

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- Ai sim? – pergunta, com um olhar disfarçadamente insatisfeito – Queres com isso dizer que não me queres conhecer mais? – sorrio.

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- Boa tentativa… Não… Conheço-te o suficiente para amar cada partícula do teu corpo, para querer beber cada palavra que digas ou olhar que me dás… – as palavras saem disparadas da minha boca em direcção ao seu ser. Talvez não quisesse ter sido tão poético, ou até sugerir que a amava, mas não me arrependia de o ter dito. O seu sorriso abre-se e é dos mais puros que a vi oferecer-me. Porém, não tarde a transformar-se numa expressão algo pensativa.

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- Mas… nem sabes o meu nome…

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- Não preciso saber… Que é que o teu nome me diria de ti?... Se pensares… as pessoas quando se apresentam, a primeira coisa que dizem de si é a que realmente menos diz… o nome… Apresentam-se quando no fundo estão apenas a dar instruções acerca de como ser chamadas… – ao ouvir-me falar percebo do sentido que faço, na medida em que nunca tinha posto em palavras estes pensamentos dispersos que por vezes me atravessam. – Qualquer pessoa pode ser um “Dennis”, ou uma “Anna”… Mas nem toda a gente pode ser tão bela e interessante como tu… ou como eu… pelo menos na parte do interessante. – sorrimos.

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- Estou a perceber. Assim como percebi essa modéstia disfarçada. Fazes-te modesto ao dizer que não te consideras belo, para dar mais validade a dizeres que és interessante…

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- Não preciso. Mas sim, deve ter sido por isso. Mas não preciso, sei que o sou. Especialmente, ou unicamente, desde que te conheci.

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- Como assim? – estou deitado de barriga para cima. Ela, de barriga para baixo, com o lençol pelos peitos, como num qualquer filme, apoia-se no meu peito. Sinto a sua respiração na minha pele.

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- Mostraste-me, tenha sido por querer ou não, o meu verdadeiro eu. O Theodoor. Que ama a Godelieve.

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- Amas a Godelieve… ou a imagem que fizeste da Godelieve?...

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- É exactamente o mesmo… - a minha resposta parece-me confundi-la – É exactamente o mesmo, porque as pessoas nunca serão, para nós, mais do que a imagem que temos acerca delas… eu nunca vou estar dentro de ti… - … - ou melhor, eu nunca vou estar dentro do teu ser, por isso nunca vou saber exactamente o que és… posso apenas ficar-me pela imagem que tenho de ti…

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- Então toda a gente tem tantas personalidades quantas pessoas conhece… ou quantas pessoas a conhecem…

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- Nunca tinha pensado assim… mas sim, acho que sim…

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- But looks can be deceiving… - responde.

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- Claro que sim… mas não contigo…

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